Volume 18 - Número 2
A formação do pediatra como mediador nos casos de crianças e adolescentes com distúrbios de desenvolvimento e transtornos mentais
Transição dos cuidados de pacientes com doenças crônicas da pediatria para a medicina de adultos: práticas de um hospital terciário no Brasil
INTRODUÇÃO: devido aos avanços nos cuidados médicos, 90% das crianças com doenças crônicas estão, na atualidade, sobrevivendo até a vida adulta. Por este motivo, é necessário um processo de transição dos cuidados da pediatria/hebiatria para a medicina do adulto que envolva uma equipe multidisciplinar e seja planejado, individualizado, gradual e baseado nas competências do adolescente, principalmente nos seus próprios cuidados e no conhecimento da sua doença.
OBJETIVO: avaliar as condições da transição implementadas em serviços de especialidades pediátricas de um hospital público materno-infantil terciário no Rio de Janeiro.
MÉTODOS: estudo descritivo qualitativo baseado na aplicação de um questionário específico para avaliação da organização dos serviços de especialidades pediátricas quanto a este processo de transição de cuidados.
RESULTADOS: em apenas três de cinco unidades avaliadas existe um profissional ou uma equipe de profissionais de saúde dedicados ao processo de transição, porém não exclusivamente. Em nenhuma das cinco unidades avaliadas há consulta conjunta entre o pediatra e o médico de adultos antes da transferência, apesar de existirem referências externas para três serviços. Nenhum serviço utiliza ferramentas validadas para auxiliar a avaliação das habilidades do adolescente ao longo do processo ou conta com programas educativos específicos para a transição.
CONCLUSÕES: não há um programa estabelecido de transição de cuidados para a medicina de adultos para pacientes com doenças crônicas em nossa unidade.
Comparação entre os resultados do teste da orelhinha e da timpanometria: devemos revisar o protocolo de triagem auditiva neonatal?
INTRODUÇÃO: a grande incidência de alterações na orelha média em recém-nascidos gera aumento na frequência de resultados falsamente alterados no teste da orelhinha.
OBJETIVO: analisar a correlação entre as respostas das emissões otoacústicas evocadas transientes com os resultados da timpanometria.
MÉTODOS: estudo prospectivo no qual foram estudados os recém-nascidos que permaneceram internados na unidade neonatal. Estes foram submetidos à timpanometria com tom de 226 Hz e 1.000 Hz e a emissões otoacústicas evocadas transientes. As curvas timpanométricas foram classificadas em normais (A e duplo pico) ou alteradas (Ad, As, B, C). A população foi descrita por meio de frequências absolutas e relativas, e a correlação entre os resultados dos exames realizados foi estabelecida por meio do teste qui-quadrado e por regressão logística, com significância de 95%, utilizando-se o pacote estatístico SPSS 16.0.
RESULTADOS: dos 172 pacientes admitidos, preencheram os critérios de inclusão 137, perfazendo 274 orelhas. Dessas, 22 apresentaram emissões otoacústicas evocadas transientes alteradas, 14 timpanometrias com tom de 226 Hz e 18 timpanometrias com tom de 1.000 Hz. A correlação entre emissões otoacústicas evocadas transientes alteradas e timpanometria com tom de 226 Hz alterada no primeiro exame apresentou OR = 44 (IC 95%: 11,75 - 166,81; p < 0,001); com a timpanometria tom de 1.000 Hz, a correlação apresentou OR = 829 (IC 95%: 100,2 - 6.879,17; p < 0,001).
CONCLUSÕES: houve melhor correlação entre os resultados das emissões otoacústicas evocadas transientes com a timpanometria com tom de 1.000 Hz na população estudada.
Habilidades dos residentes de pediatria na abordagem dos transtornos mentais na infância
INTRODUÇÃO: os transtornos mentais estão cada vez mais comuns no dia a dia do pediatra, sendo considerados 'distúrbios da modernidade'.
OBJETIVO: avaliar a satisfação dos médicos-residentes com suas habilidades na abordagem de transtornos mentais na infância e sua percepção sobre o papel do pediatra no diagnóstico e abordagem desses distúrbios.
MÉTODOS: estudo envolvendo médicos-residentes de um programa de residência médica em pediatria, entre agosto de 2015 e maio de 2016. Utilizou-se questionário semiestruturado com informações sobre experiência e interesse dos participantes em diagnosticar transtornos mentais na rotina de atendimento da residência em pediatria.
RESULTADOS: o questionário foi respondido por 51 residentes (82,3%) do total de 62 médicos (distribuídos entre residentes do primeiro ano - 20; do segundo ano - 20; e do ano opcional - 22 residentes). Os médicos relataram média de 20 atendimentos por semana em atividades da residência e estimavam que, em metade deles, constataram-se transtornos mentais, sendo os mais comuns o distúrbio de aprendizagem (20%), seguido por depressão, ansiedade e transtorno de deficit de atenção com hiperatividade (10% cada). O treinamento, durante a residência, para abordagem desses distúrbios foi considerado insuficiente entre 58,8% dos entrevistados. A insatisfação quanto à própria abordagem de transtornos mentais foi relatada por 76,5% dos entrevistados.
CONCLUSÕES: constatou-se que os transtornos mentais são diagnósticos comuns na prática pediátrica, segundo a percepção clínica dos médicos, e verificou-se defasagem no treinamento dos médicos-residentes para diagnosticar e abordar esses problemas.
Doença meningocócica: situação epidemiológica atual no Brasil
INTRODUÇÃO: a doença meningocócica é patologia de notificação compulsória, causada pela bactéria Neisseria meningitidis, capaz de produzir amplo espectro clínico, cujos fatores de risco estão relacionados a aglomeração no domicílio, tabagismo, dentre outros. No Brasil, é uma doença endêmica com ocorrência periódica de surtos epidêmicos em vários municípios e principal causadora de meningite bacteriana. Como medidas de prevenção e controle são realizadas a vacinação e a quimioprofilaxia.
OBJETIVO: o trabalho tem como objetivo principal a análise crítica sobre os casos confirmados e óbitos ocorridos por doença meningocócica registrados entre os anos de 2010 e 2017.
MÉTODOS: realizou-se um estudo descritivo dos casos confirmados e dos óbitos por doença meningocócica registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação, com data do início dos sintomas em janeiro de 2010 a dezembro de 2016. A data da atualização do banco de dados do sistema foi abril de 2017.
RESULTADOS: quando comparados os casos confirmados no ano de 2010 e 2016, percebe-se um declínio. Quando se analisa o número de óbitos, verifica-se que este diminuiu mais de 60%. A taxa de incidência também decaiu significativamente. Apesar da queda observada, a taxa de letalidade vem mantendo-se estável.
CONCLUSÕES: de acordo com nossa interpretação dos dados analisados, os casos confirmados, assim como os óbitos por doença meningocócica, diminuíram ao longo dos anos, principalmente depois da introdução da vacina meningocócica conjugada para o sorogrupo C. Apesar de todo sucesso observado, é necessário manter uma vigilância efetiva sobre a doença meningocócica.
Artéria umbilical única — Relato de caso
INTRODUÇÃO: apresentamos um caso de artéria umbilical isolada, que, embora seja um achado visto frequentemente ao exame ultrassonográfico pré-natal e nas salas de parto, pode estar associado a outras malformações congênitas.
OBJETIVO: relatar um caso de artéria umbilical única.
DESCRIÇÃO DO CASO: apresentamos um caso de artéria umbilical isolada em um recém-nascido a termo, sem repercussões maternas ou fetais detectáveis.
DISCUSSÃO: a presença de artéria umbilical única pode estar associada a outras malformações congênitas. Na presença de fatores de risco, tais como idade avançada, alterações genéticas, diabetes mellitus durante a gravidez, história familiar de doença cardíaca congênita ou inseminação artificial, deverá ser realizado aconselhamento genético, ecocardiografia e ultrassonografia abdominal e geniturinária.